quinta-feira, 18 de novembro de 2021

O desabafo de um Borderline

    Estou passando por diversos processos esse mês. Tem sido um mês difícil, não só pra mim mas pra todos aqui em casa.
    Esse mês as contas chegaram em níveis das quais está impossível pra mim continuar com algo que eu amava que é a terapia, infelizmente pra minha sanidade eu vou interromper esse processo de cura e focar em pagar contas.
    Esse mês estou deixando de tomar um remédio que comecei a tomar por conta própria (pegando sem receita e tudo mais) a 10 anos, cada caixa desse remédio custa quase 100 reais e eu tomo 1 caixa por mês. Parar de fumar foi tão mais simples porque os sintomas de parar de fumar eu quase nem senti, mas os sintomas da falta dos componentes do remédio estão me matando de dores de cabeça e tontura.
    Esse mês achei que tinha pego covid porque perdi completamente meu paladar e olfato, me deixando em choquíssimo durante uma semana, indo parar no hospital na quinta-feira de madrugada do tanto de vômito que eu soltava e não conseguia parar. (andei de ambulância pela primeira vez então 1 ponto pra mim).
    Esse mês por conta de uma amiga que conseguiu uma oportunidade incrível pelo linkedin, eu retornei a ele e como doeu as coisas que eu vi lá. Pessoas que estudaram comigo e que finalizaram seus cursos dando palestras, criando projetos, viajando para fora do país, realizando apresentações magníficas por suas empresas, donos de empresas e franquias, todas essas pessoas eu julgo como bem sucedidas, pessoas as quais eu deveria estar junto e que eu tentei estar junto inclusive durante o senai e as 2 faculdades que TENTEI fazer. E eu consegui falhar nas 3 coisas, seguidas, uma capacidade incrível eu diria.
    No senai, eu não me destacava em quase nada, era muito preocupado com meus "problemas familiares" visto que meu pai tinha ACABADO de sair de casa e eu o via andando de mãos dadas com mulheres dentro da própria empresa com certa frequência. Aos poucos eu sentia algo me consumindo e me comendo por dentro, era uma raiva e/ou um ódio genuíno da minha pessoa em que eu não conseguia me controlar, explodia com uma facilidade imensa, era incrível como cada pedaço meu queria explodir. - E, bom, explodiu - . Explodiu com um dos meus colegas da qual éramos bem próximos até, mas eu fiquei com raiva e soquei ele, fomos ambos para um setor que lidava com essas situações. Para ter noção da merda que foi, eu e ele estávamos conversando na sala enquanto esperávamos pra ser atendidos pelo pessoal. Literalmente não tinha sido nada e eu só explodi causando assim não uma demissão por justa causa nossa mas o não aproveitamento nosso quando o curso acabou. Para os que não conhecem, a volks era conhecida pelo seu senai no treinamento e aproveitamento dessas crianças quando elas se formavam, era um processo magnífico. Que eu perdi e fiz outra pessoa perder por não saber lidar com minhas situações.
    Antes de acabar o senai, eu havia entrado em uma faculdade para fazer engenharia, minha intenção era fazer engenharia da computação visto que 90% do meu tempo eu queria passar no computador de alguma maneira e os outros 10% seria para falar sobre ficar no computador. Acontece que eu era inteligente no ensino médio onde baskara era a coisa mais complicada a se ver numa escola pública. Eu não era inteligente a nível de faculdade. Eu não era inteligente a nível de entrar no senai da volkswagen sem que fizesse um curso para isso, e sim eu precisei fazer um curso porque sozinho eu não ia entrar, isso é fato. A questão da faculdade foi mais complicado ainda. Primeiro porque eu tava perdido, sem rumo naquele lugar. Eu não tinha um salário para pagar a faculdade e não tinha competência para entrar em uma faculdade pública. Fui contra todas as vontades que eu tinha mas pedi dinheiro ao meu pai que não pagou nem uma parcela e não me ajudou a pagar nem que fosse metade dela (pra ele, provavelmente, eu precisava ser bom e fazer faculdade publica, fazer concurso, afinal eu tinha entrado no senai então era só me virar e estudar). Eu fiz o primeiro ano da faculdade sempre devendo 2 meses, até o fim do ano da qual acabou o senai e, por motivos que eu já comentei, não fui aproveitado. Eu fiquei desesperado porque não conseguia pagar e nem estudar, procurava emprego e arrumei 1 que não conciliava com a faculdade, e que não pagava a parcela dela também, engenharia é foda. Abandonei a faculdade com 4 parcelas a pagar, o que mais pra frente resultou em um processo para minha mãe com valores e taxas altíssimos após alguns anos.
    Após esse emprego que me trataram como um lixo, arrumei um emprego em uma multinacional da qual fiquei bastante tempo, mas vocês se lembram da pessoa estouradinha né? Pois é, eu lembro todos os dias dela. Arrumei brigas e discussões com quase todos os superiores que tive. Na minha cabeça o que eu fazia era certo, eu tava fazendo o bem. Infelizmente pra mim eu nunca tive alguém que sentasse comigo e me explicasse como funcionam as empresas, os cargos, os sapos que a gente precisa engolir de vez em quando para podermos seguir em frente. Como eu não tive essa educação, eu não respeitava nada e nem ninguém. Via as pessoas cada vez mais subindo de cargos e eu sempre ficando, óbvio, eu não subiria de cargo alguém que tá me dando trabalho, que tá criando confusão, É ÓBVIO, é simples, mas é óbvio e simples pra mim hoje, para a minha maturidade de hj.
    Nesse meio tempo em um relacionamento tentei outra faculdade, essa eu conseguia pagar e fiz o primeiro ano sem muitas complicações, essa pessoa que estava comigo me ajudou bastante e era muito inteligente, me ajudava a como estudar e criava planos de estudo, esse tipo de coisa que eu nunca nem imaginava que existia.
    Mas a vida, amigos, a vida é uma caixinha de surpresas. Assim que eu retornei de um mês de férias fui imediatamente mandado embora. Como motivo utilizaram uma frase que eu mesmo utilizei: não tem lugar nessa empresa pra alguém como eu. - E não tinha mesmo -. Com tudo que recebi quando fui mandado embora, consegui pagar mais 6 meses de faculdade enquanto procurava por outro emprego, sem sucesso. Estava agora sem dinheiro e, pasmem, não aceitei o dinheiro do meu ex sogro pra ir pagando a faculdade até arrumar um emprego. Faltava apenas 1 ano e eu me formaria, conseguiria devolver esse dinheiro pra ele em tempo e tudo daria certo, mas eu não o fiz. Novamente eu peguei uma oportunidade boa como a do senai e joguei no lixo, taquei na lixeira.
    Bom, onde eu quero chegar com tudo isso? Chegando que tudo isso teria sido evitado com terapia, que é onde entramos agora, quando as coisas estavam tão ruins pra mim que eu estava solteiro, desempregado e a única companhia que eu tinha era meu melhor amigo da qual nunca mais ouvi falar, sabe-se lá porque Deus esse cara simplesmente sumiu da minha vida e nunca mais soube de nada dele.
    Nessa cena agora eu tinha uma missão simples: procurar emprego pra parar de viver as custas da minha mãe e buscar minha irmã na estação pois ela estava grávida e chegava a noite. Um dia, em agosto, eu bebi bastante e demorei muito de ir buscar minha irmã que ficou parada numa estação de trem a noite e grávida. A cena mais comum de se esperar é que ela tava puta, ficou meia hora me esperando e nada. Quando eu cheguei, tivemos uma discussão e eu, simplesmente, larguei ela lá pra voltar sozinha e grávida pra casa no maior foda-se do mundo, como se eu tivesse fazendo um favor pra ela buscando-a de noite e não como se eu devesse ficar preocupado para um caralho PORQUE ELA TA GRÁVIDA E TA DE NOITE. Tudo isso se resolveria com um pedido de desculpas quando eu chegasse lá, ela ainda ficaria puta mas eu me redimiria com minhas desculpas, porque de fato eu não fiz por mal, eu esqueci. Mas eu transformei uma bolinha de neve que a gente joga nos amigos (pra quem tem, claro) em uma avalanche da qual eu perdi o controle e de fato nesse dia eu perdi o controle total da minha vida. A raiva que eu sentia misturado com o remorso e o álcool, não foi a combinação mais legal que eu fiz na vida. O fato de que as coisas não estavam indo conforme o que eu queria que fossem, me destruiu de tal maneira que pra mim só tinha uma saída de tudo isso, morrer. E aí eu coloquei meus fones, peguei todos os remédios que eu tinha no momento e abri uma garrafinha de tequila (que era boa para um caralho), tomei tudo junto. Me despedi de quem eu tinha que me despedir e "apaguei". Eu lembro de bem pouca coisa daquela noite, eu lembro de ouvir barulho de gente tentando arrombar a porta e eu me desesperar porque não conseguia me mexer direito e ainda estava consciente. Peguei umas laminas de gilete, daquelas que a gente compra pra fazer a barba mesmo e forcei o mais forte possível no meu braço. Bom, cês tão lendo isso então eu não atingi nada nesse dia. O fato é que os cortes foram tão superficiais que quase já não tenho marca deles hoje. Acho que eu tava tão chapado que pra mim eu tinha arrancado o braço fora antes de apagar totalmente.
    A partir desse dia passei 1 semana internado em uma sessão só pra problemas psiquiátricos onde percebi que meu problema não era grande coisa. Fiquei internado com uma galera que eu sentia uma mistura de medo e dó, porque elas estavam literalmente em outro universo já, eles não reconheciam o real, não sei explicar.
    Muitas pessoas vieram me visitar, eu senti realmente que dava pra ter uma chance naquele dia. Faltou a visita de uma pessoa, mas dessa vez vou deixar pra vocês tentarem adivinhar quem não compareceu.
    Voltando pra casa foi tudo uma bagunça, eu não tinha acesso a nada que cortasse e nem aos meus remédios, quem controlava tudo isso era minha mãe, mesmo eu ter entendido que não era a opção, ela não queria nem saber. Fui obrigado a fazer terapia, contra a minha vontade, eu odiava, detestava terapia devido a coisas que aconteceram anteriormente mas não tinha conversinha, a ultima palavra era minha: sim, senhora.
    O primeiro contato com a minha terapeuta foi algo engraçado porque eu sentia que nunca ia me soltar, e ela conversou comigo como se fosse uma amiga, antes de fazer qualquer pergunta do pq eu tava lá, eu falei pra ela, vomitei tudo o que aconteceu de uma forma tão avassaladora que eu dormi como se fosse um anjo naquele dia.
    Depois de uns meses, veio o diagnóstico, claro. Borderline. Não fazia nem ideia q isso era uma doença, pra mim eu era só uma pessoa estouradinha o tempo todo.
    Esse ano conseguimos diminuir a terapia para cada 2 semanas, pois eu estava me desenvolvendo muito bem, estou estável, não tenho surtos, a muito tempo que eu não me machuco. Aprendi a ser uma pessoa mais paciente, uma pessoa que pensa antes de falar as coisas, aprendi a reconhecer que as oportunidades que eu tive quem estragou com elas fui eu mesmo, simplesmente porque eu não sabia pensar. Isso tudo demorou 23 anos pra acontecer, hoje estou com 28 e esses 5 anos de terapia foram as coisas mais maravilhosas que eu passei, mesmo tendo vezes que eu queria dar uma voadora de 2 pés e arrancar a cabeça dela fora, eu entendi, aos poucos eu entendi e me transformei em quem eu sou hoje.
    A minha tristeza, inclusive a tristeza que me levou a escrever isso foi: tirando as partes das oportunidades que eu joguei fora, quem é culpado? Quem olhou pra mim e disse: essa criança é saudável do jeito que ela é? 
    Eu tenho uma teoria de quem foi o estopim para tudo isso, quem foi o gatilho, e é a mesma pessoa que eu precisei bloquear esses dias. Uma pessoa que a mais de 10 anos não me parabeniza pelo meu aniversário, uma pessoa que só entra em contato comigo quando acontece algo aqui em casa porque ele "precisa saber". Uma pessoa que já me disseram que eu deveria amar independentemente do que me foi causado, independentemente de todas as vezes que vi ele abraçado com outra mulher enquanto eu ouvia minha mãe chorando no banheiro e nos quartos de casa. Eu nunca trago essa pessoa para a terapia, talvez e quase certeza que isso é um erro gigantesco da minha parte, existem coisas que a gente precisa tratar a fundo, existem feridas em que o caco de vidro entrou na carne, a gente precisa puxar e deixar sangrar, deixar curar. Mas eu não trago, e possivelmente não vou trazer porque mais do que nunca vou precisar de cada tostão que me sai do bolso. Mais uma vez estou perdendo coisas que amo porque preciso de dinheiro, preciso trabalhar, preciso me esforçar, preciso de tempo, preciso aprender a fazer algo novo como minha mãe e irmã que fazem crochê pra tentar complementar suas rendas. No momento estou fazendo apenas cortes. 
    Primeiro foi o cigarro, depois o remédio controlado que não existe na rede pública, agora a minha terapia. Em breve, vou começar a tomar banho dia sim e dia não, ficar o mínimo possível no computador pra que ele não fique na tomada, carregar meu celular só 1 vez ao dia, ou seja, basicamente deixar de usar ele também. E tudo isso porque anteriormente eu tomei decisões erradas, não me tratei, não tive apoio de uma pessoa que não quis ser pai, não quis me ensinar a barbear, não quis sentar comigo e conversar, perguntar o que estava acontecendo, porque eu tava tão irritadiço e com a resposta do "EU NÃO SEI" ele poderia ter me ajudado, poderia ter me levado para fazer uma análise. Mas ele não fez porque ele tava ocupado no trabalho, ocupado de final de semana bebendo, ocupado com as outras mulheres que ele ficava de mãos dadas na fábrica, ocupado com qualquer outra coisa, menos comigo.
    Esse texto é um grande desabafo que vem misturado de bastante coisa: tristeza, indignação, raiva, abstinência, arrependimento. Deve até ter mais algumas coisas, mas acho que nem eu sei interpretar direito sozinho. Talvez o arrependimento é o que mais me bate a porta, porque agora eu voltei ao linkedin e lá vejo todos os meus colegas e como eles estão bem, como estão incríveis, bem sucedidos e, provavelmente, não estão precisando sacrificar nada para pagar suas contas, nem seu cigarro, nem seus remédios e nem a terapia, caso eles façam.

Acho que é isso mesmo, pelo menos por hoje, é isso mesmo

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Acabou?

 Não me deixe, não assim

Eu sei, cê não quer saber de mim.

Valha-me, que sentimento ruim

Você sumindo aos poucos, chegou o fim.


Estou cavando minha cova,

Sem você até o açúcar ficou amargo.

Mas tem um lugar que eu conheço,

Um lugar da qual você não pode fugir de mim.


Nesse buraco no chão

Podemos olhar para ele.

Olhe, bem fundo

Não te lembra de nada sobre mim?


Há tanto brilho no céu,

Existe brilho em nós?

Por mais que os planetas sem alinhem,

Nossos corpos jamais serão um novamente.


(fonte: https://www.tumblr.com/tagged/noite+estrelada?sort=top)

Eu não me importo,

Na verdade eu suporto.

Aos poucos vou esquecendo,

Esquecendo aquilo que esqueci.


Ora, já era hora,

Você dançando enquanto eu olhava.

Ora, você voou

E de ti saiu brilho de estrelas.


Agora acabou,

Mas pra quem acabou?

Porque eu ainda estou esperando no banho.

Por que eu ainda estou esperando no banho?