segunda-feira, 11 de março de 2013

Natal..

  Eu tinha apenas 2 meses, quando eu a conheci. Ela era pequena também, mas tinha mais idade que eu, e era tão linda. Lembro da felicidade dela quando me viu nos braços de seu pai. Era Natal, se eu não me engano, Natal costuma ser frio nas ruas, mas eu estava em uma casa quentinha, com a minha dona abraçada a mim. Eu não sentia frio. 
  Conforme eu crescia, os elogios eram menos frequentes e as broncas mais frequentes. Eu não fazia nada de errado, eu adorava brincar, mas minha dona estava muito ocupada com as suas unhas e seu cabelo, então eu precisava chamar a atenção dela para vir brincar. Eu não fazia por mal. Cheguei a apanhar dela, mas eu sabia que aquilo era apenas a minha educação.
  Bom, eu achava que era. Até que as broncas ficaram menos frequentes e as chineladas mais frequentes. Houve uma vez que ela me bateu tão forte, mas tão forte, que eu só queria ir pro colo da minha dona, mas ela estava me batendo muito, e eu estava ficando tão triste... 
  Passou-se alguns dias, e minha patinha ainda doía. Mas eu estava empolgado para brincar novamente, e peguei a minha bolinha, minha primeira bolinha. Eu tinha várias, mas essa era especial e eu a deixava guardada dentro da minha casinha. Eu fui correndo até o quarto de minha dona, e acabei por ouvir algo que me doeu muito. Ela estava conversando com o pai e eles pretendiam se mudar. Quanto ele questionou-a com o que fazer comigo, ela disse, sem receio nem piedade, "joga ele na rua, já está velho e tem que aprender a se virar sozinho".
  Minha bolinha caiu da minha boca e foi rolando até os pés deles, que a ignoraram, claro. Sabe, não sou irracional, eu só não sei o limite das minhas brincadeiras. Será que ela nunca parou pra pensar que eu só queria minha dona de volta? Será que ela pensava que eu não entendia o que ela dizia?
  Todo meu sofrimento, em vão. Eles realmente se mudaram, e eu também me mudei. Me mudei para as ruas, contra a minha própria vontade. Eu lembrei do Natal, aquele da qual eu havia conhecido a menina mais linda que eu já tinha visto na vida, aquele da qual eu me senti aquecido do frio lá fora, o frio natalino. Memórias, são a única coisa que me sobraram hoje. Eu, eu sou apenas um cão, um cão que não esperava viver na rua, um cão que sabe quão frio é aqui fora..

(Fonte: http://www.facebook.com/Acid1904)

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