segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Chuva..

  A chuva está espessa aqui fora. Cai forte, e as vezes seus trovões rugem assustando todos os animais a caminho da rua. Mas ninguém se importa com nada além da chuva que está caindo. As pessoas correm para suas casas assustadas, é tantos trovões que eu até pensei em correr. Mas não corri. Eu não precisava me importar de chegar em casa antes da chuva cair. Não tinha ninguém me esperando em casa, eu não havia marcado nada com ninguém também. Não havia ninguém pra brigar comigo caso eu chegasse tarde ou molhado. Eu não precisava correr.
  Quando eu disse que te amava logo antes de te deixar, foi mais do que uma piedade para mim. Eu realmente sentia aquilo. Você também disse que me amava antes de me deixar, não foi? 
  Realmente não importa, não mais. Ele se aproxima enquanto eu me deito e espero a chuva cair. Você não estará em casa, estará? Você não estará lá em casa com uma toalha e uma cara de dó por eu estar todo molhado, estará? Creio que a resposta está nas mais profundas entranhas do meu ser, da qual nem mesmo eu posso atingir tal nível de sabedoria.
  Eu ouço alguém falando e abro meus olhos. Fui chamado de bêbado drogado por uma mãe que puxava seu filho para debaixo do guarda-chuva. E não é que ela pode estar certa mesmo? Me embebedei de amor e me droguei com paixão. E agora estou de ressaca, deitado no chão, com a boca aberta deixando a chuva entrar na minha boca. Está frio, mas estou feliz. Estaria melhor no conforto de seus braços, mas você aconchega outro, certo?
  Eu apenas sou mais um passado, fui apenas mais um que quebrou seu coração. É triste, depois de tudo que aconteceu, ver que terminamos assim, pois eu realmente era muito apegado a você. Fazíamos tudo juntos, praticamente não nos separávamos por nada, até o trabalho de ambos era no mesmo local. Tínhamos contato o tempo todo, até mesmo trabalhando, quando eu ia ao banheiro e voltava, debaixo do meu teclado tinha um bilhetinho, escrito "eu te amo meu gato". Eu sorri igual bobo te procurando na sala, mas na certa você passou e deixou. E eu não dava tanto valor a tantos bilhetinhos que você me deixava, tanto que nem percebi quando você parou de mandá-los. Eu não havia percebido também que você sumira do prédio por um bom tempo, e que ninguém sabia onde você estava, e eu dava de ombros, pensando que você ficou no banheiro dormindo e matando o trabalho. Não dei valor também quando você não me atendia mais, e ficávamos cada vez mais longe um do outro, aos poucos dei de ombros também e parei de ligar. E dai se foram as mensagens, que já não tinham nenhum carinho, apenas um "oi, como vai?", apenas por respeito e educação. Eu não percebi que estava te perdendo aos poucos, e você ia escapando de minhas mãos como um sabonete recém molhado em água quente.
  Quando dei por mim, havia um recado em um papel debaixo do meu teclado. Pensei comigo "é mais um daqueles bilhetes dela, vou ler isso depois". Eu trabalhei o dia todo e me esqueci do bilhete que você me deixara mais cedo, debaixo do teclado, com alguma coisa escrita da qual eu não tive nem a preocupação de olhar. Eu havia colocado dentro da gaveta, junto com meu celular desligado. Eu fiquei até mais tarde no trabalho, devido a falta de comunicação entre meu computador e a central. E quando fui embora, peguei meu celular e vi o papelzinho caindo no chão. Eu o peguei e ao acabar de ler, tive um surto de raiva. Peguei a tela do meu computador e joguei no chão. O teclado voou na parede e o mouse eu nem mesmo sei aonde eu o joguei.

(Fonte: http://rayebelle.blogspot.com.br/2012/04/e-hoje-deitada-na-chuva.html)

  Agora estou aqui, deitado na rua. Observando a chuva cair em mim. E o bilhete ainda está no meu bolso. Eu retiro-o devagar, evitando amassá-lo. Eu leio a sua letra caprichada e colorida, diferente do último que recebi, da qual eu já nem lembro mais o que está escrito. Mas esse estava diferente, estava mais pesado, eu não consegui conter minhas lágrimas enquanto o lia pelo menos pela vigésima vez: "oi e tchau. estou me despedindo de você. encontrei alguém que é dono do meu sorriso, dos meus beijos, meus abraços e do meu amor. é alguém que gosto muito. você não me deu valor, sabe? eu estive contigo o tempo todo e você nem notou, e ele até lembrou do meu aniversário, que por um acaso, é hoje. mas você não se importa, certo? adeus.."

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